Centro de Formação Padre Horácio Cura
Agrupamento 970 São Pedro da Palhaça
02/04/2022
Esta é a história de uma pequena e jovem coruja que um dia descobriu que se tinha perdido de amores por um belo gato preto. Empoleirada no alto de uma chaminé, observava o esbelto felino, andando de cá para lá, preso na varanda de um prédio. Tinha um pelo luzidio, lustroso até, e uns olhos azuis que a deixavam completamente encantada e rendida. Ronronava com suavidade sempre que se espreguiçava ao sol de inverno e deixava no ar um queixume ligeiro quando a molenguice o apoquentava. Quando a noite chegava e a dona o recolhia, a pequena coruja atrevia-se a esvoaçar por ali fora e pousar levemente no muro que separava a varanda do abismo. Queria sentir o seu cheiro, estar no mesmo local que ele. Durante o dia não o poderia fazer pois temia que o gato, ao vê-la aproximar-se, seguisse o seu instinto lançando-se sobre ela e catrapum, era uma vez uma coruja. Mas queria tanto dizer-lhe o que sentia por ele. A língua era outro problema, pois ela piava e o gato miava. Como haveriam de se entender? Os dias sucediam-se, o gato continuava a passear na varanda e a pequena coruja ficava cada vez mais apaixonada.
Foi então que um pardal, a abordou e, depois de se inteirar o que fazia ela ali todos os dias, indiferente à chuva e ao frio, lhe contou uma história que tinha sido passada de bico em bico, desde que o seu bisavô era ainda um simples ovo de pintas acastanhadas. Disse-lhe ele que havia uma língua antiga que era comum a todos os animais. Quem a conhecesse poderia falar com qualquer animal que existisse na terra, desde o pequeno pintainho até ao enorme elefante. Qualquer um a poderia aprender, mas nem todos a poderiam conhecer pois senão o encanto da existência da mesma iria perder-se nos confins dos tempos. Estava escrita em códigos e cifras múltiplas que, quando desvendadas, davam acesso a um mundo fantástico onde todos se entendiam, onde todos falavam a mesma língua, partilhando ideias e ideais, falando de amor e de paz, de amizade, de livros e aventuras, de sonhos que nunca tinham sido sonhados por ninguém. A pequena coruja escutou entusiasmada o discurso do pardal e quando este terminou, agradeceu-lhe, fez-lhe uma carícia na crista que tinha no topo da cabeça e voou cruzando o céu azul em busca daquele saber antigo que lhe iria permitir dizer ao esbelto gato preto tudo o que lhe ia na alma.
Aquele iria ser um dia inesquecível.